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As minhas experiências com o Colorismo

Meus pais tiveram dois casais de filhos e eu sou a terceira entre os quatro. Meu avô
paterno era um homem branco, minha mãe tem o tom de pele mais claro, com cabelo crespo e
eu nasci com um outro tom de pele, cabelo menos crespo, nariz e lábios um pouco diferentes
dos meus irmãos, mas sempre me aceitei como pessoa negra. Com o passar dos anos, tendo
total noção do racismo presente na sociedade, isso nunca abalou a minha autoestima, pois a
nossa sólida base familiar nos estruturou.
Eu costumava dizer que até a palma das minhas mãos era negra, aliás, que eu era
bem negra e essa é a minha condição identitária aceita, de maneira que, sempre me
identifiquei como mulher negra com muita honra e, desta feita, nunca tive vergonha de me
assumir. No ambiente familiar, os meus irmãos e até o meu pai, expõem um discurso de forma
lúdica, talvez com o objetivo de me contrariar, assim dizendo: “olha como ela é clarinha…”
Há algum tempo atrás, li algo sobre o colorismo 1 como fenômeno sócio-histórico e
continha, no texto, uma foto de mulheres e homens numa sequência com tonalidades de pele
diferentes e achei bem interessante. No título, constava: “Somos lindos!”
De modo geral, sou bem aceita nos lugares onde frenquento, elogiam o meu cabelo
macio e já me trataram por morena com a seguinte indagação: “Quem na sua família é
negro?”. Algumas pessoas podem pensar, mas, você é professora, escritora e palestrante,
dedicada, etc., e, desta sorte, pergunto eu: não estariam as pessoas a tentarem forjar a minha
condição social ou acadêmica com o fato de eu não ter características fenotípicas totalmente
brancas?
Analisando essa questão do fenômeno do colorismo de forma mais fecunda, outra
pergunta paira no ar: E se fosse eu uma mulher negra com uma tonalidade de pele mais
retinta, com cabelo bem crespo, nariz e lábios africanizados, será que os acessos, no meio
social, me seriam facilitados? Isso posto, acredito, sim, que tenho mais facilidade em alcançar
espaços e ser melhor aceita, quando comparada a outras mulheres negras de pele mais escura.
Com a minha autoestima alcançada por uma educação familiar bem estruturada, eu
sigo circulando e ocupando todos os espaços que eu quero ocupar, defendo causas nas quais
acredito cogitando um futuro com respeito às diferenças.

1 Cf mais detalhes conceituais em textos sobre o tema neste site
alfacolorismo. Pt.

Autora:
Laudicéia Nascimento
Professora, escritora e palestrante

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