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Preso ou solto, nunca oculto: a liberdade dos cabelos crespos

por Márcia Janini, jornalista, crítica-musical, pedagoga, especialista em Artes Cênicas, Artes Visuais e Música, pós-graduada em Gestão Educacional, participa ativamente de pesquisas sobre questões relacionadas à harmonia no ambiente escolar e respeito às diferenças. Diretora de escola na Rede Municipal de Educação de São Paulo, encontra ali amplo material para suas pesquisas de campo in loco.

 Um tema que sempre chamou a atenção da sociedade, mas especialmente em nossos dias esse tema têm sido alvo de muitos debates, é o dos cabelos crespos e a necessidade quase imperativa de se relaxar, alisar, ou “domar” os cachos “rebeldes”.

          O que poucas pessoas sabem é que essa excessiva busca pelos cabelos perfeitos, como o dos comerciais de shampoo, na verdade esconde em seu bojo o preconceito, fazendo com que indivíduos, cada vez mais jovens, sintam-se inadequados a ponto de se sentirem inferiores, o que acarretará em suas vidas uma série de dissabores como as doenças psíquicas, os transtornos de personalidade, a depressão, etc. conforme podemos refletir com o posicionamento de hooks (2019, 53) onde massas de crianças negras vão continuar a sofrer de baixa auto-estima. E, ainda que sejam motivadas a se empenhar ainda mais para alcançar o sucesso, porque desejam superar os sentimentos de inadequação e falta, esses sucessos serão minados pela persistência da baixa auto-estima.

          Dessa forma, vemos meninas ainda em tenra idade, na fase escolar, irem para as escolas trajando pesadas tranças e outros arranjos que busquem esconder o cabelo crespo, a tal ponto de machucar o couro cabeludo, com o uso de uma quantidade enorme de fitas, rabicós, elásticos, presilhas e demais produtos, tudo em nome da imagem perfeita, o mais próxima possivel dos cobiçados cabelos lisos ou “bons”. Esse fenômeno é explicitado por Almeida (2020, 23), de forma que se prioriza o modelo hegemônico de beleza criada pela ideologia do supremacismo branco que inferioriza os traços e características naturais da mulher negra, a exemplo do cabelo crespo ou cacheado , e impõe um padrão eurocêntrico de beleza da mulher branca e de cabelos lisos.

          Meninos do sexo masculino tendem a esconder seus cabelos sob pesados capuzes, toucas e bonés mesmo no alto verão, deixando com isso grande parte de sua identidade oculta. Quando perguntados sobre  o porquê dessa atitude, verificamos estupefatos que a violência começa dentro do próprio lar, onde os pais e outros membros da família tendem a reproduzir a forma como eram tratados quando crianças, impondo aos membros mais jovens a necessidade de estar sempre bem arrumado, o que significa estar “com a juba domada”, porque seu cabelo é “feio” ou “ruim”.

          Ao se referir aos cabelos dessa forma estereotipada e pejorativa, percebemos o quanto nossa sociedade precisa evoluir no quesito respeito às características fenotípicas das várias etnias, fazendo com que cada indivíduo não passe pelo sofrimento psíquico de sentir-se diferente, inferiorizado e até certo ponto, marginalizado por características físicas que remetem às suas origens, uma vez que de acordo com Gomes (2019, 13) o cabelo crespo figura como um importante símbolo da presença africana e negra na ancestralidade e na genealogia de quem o possui. Mesmo que a cor da pele seja mais clara ou mesmo branca […]

Referências bibliográficas

ALMEIDA, C. Feminismo negro. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2020.

GOMES, N. Sem perder a raiz. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

HOOKS, B. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Efefante, 1992.

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